sexta-feira, 13 de maio de 2011

Valentino Perdido

   "Todos os que eu já amei estão mortos agora, alguns eu mesmo tive que matar."
    E foi somente isso que ele disse pra mim, e partiu pela porta. Era algo forte, o impulso de correr por aquelas escadas e impedir que de novo ele fugisse da minha vida. Mas a verdade é que, teoricamente falando, minhas próprias mãos estão sujas do sentimento dos outros.
    Psicopata sentimental, eu diria, enquanto mais uma vez sentava diante do celular, mas dessa vez era diferente. As roupas dele espalhadas pelo dessarumar da sala, todas as poucas palavras que foram ditas na noite passada.
   Ele por fora, vivo e quente, mas por dentro estava trancado. A chave eu nunca vi, mas nem mesmo ele pode dizer que não a procurei.
   "Se você me deixar agora, eu juro..." soluçei, perdendo de novo a estabilidade emocional. "Eu juro que serei mais um, mesmo que você nunca tenha me amado de verdade, mas eu serei mais um dos mortos que você deverá levar consigo em lembranças."
     A mão tremula, segurando cada lembrança. Sim, haviamos sorrido, e eu o via enquanto o mundo girava através da minha mente, o via tão humano e ao mesmo tempo tão não-ser.
     Juntei suas coisas, dessa vez eu sabia, ele nunca cederia seu amor por mim, pois sabia que se um dia tivesse que partir, teria que me matar primeiro.
     "Mas dessa vez", sussurei, enquanto terminava de juntar suas coisas e pegar o fosforo. "eu serei a ultima pessoa pra quem você partiu, pois dessa vez quem será sua morte sou eu."
     Acendi, joguei cuidadosamente e esperei o fogo se alastrar, por todo o apartamento, queimando consigo a unica esperança que eu tinha de fazê-lo mudar de ídeia. Assim parti, com um revolvér antigo no bolso e um pouco de grana, na busca do meu Valentino perdido.

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